Carta aberta sobre os incêndios torna-se viral
Uma carta que ilustra muito bem o que se passa no nosso País!
“Confissões de um incendiário profissional:
Chamo-me Pedro… ou talvez não. No meu “ramo” ninguém usa nome verdadeiro.
Há 10 anos que faço o mesmo trabalho, sempre na mesma altura do ano, ponho fogo a Portugal.
Não é paixão pelo cheiro a queimado nem mania de pirómano. É negócio. E, como qualquer profissional, faço o que o cliente pede e paga.
E quem são os meus clientes? Grandes grupos de madeiras e celulose, porque o eucalipto cresce rápido e dá dinheiro. Empresas de reflorestação, que ganham milhões em fundos europeus para “recuperar” terrenos que antes estavam verdes.
Construtoras, que precisam de “limpar” áreas para novos projetos. Investidores que compram barato terrenos ardidos para revender caro. Seguradoras, quando o fogo vem a calhar para acionar indemnizações. E claro… o negócio do próprio combate aos incêndios, helicópteros, aviões, horas extras e contratos milionários.
O segredo? Arde hoje, planta-se amanhã, fatura-se depois. E ninguém pergunta muito. Enquanto se discute se fui eu, o vizinho ou o vento, ou outra causa “natural”, o dinheiro já mudou de mãos.
Todos ganham… menos as aldeias, as florestas e quem vive da terra. Mas querem saber o que me faria parar? Simples, cortar o lucro a quem me contrata. Se a floresta fosse mais rentável em pé do que em cinzas, o meu trabalho deixava de existir.
Como? Plantar árvores de valor comercial e resistentes ao fogo. Apostar em frutos secos, mel, cogumelos, plantas medicinais. Criar cooperativas locais para gerir e lucrar com a floresta. Apostar no turismo rural e de natureza.
Mas enquanto o fogo der mais dinheiro que a sombra das árvores, o meu “serviço” vai continuar a ser procurado.
E no final, quando olharem para o país a preto e cinzento, lembrem-se, eu posso ter acendido o fósforo… mas não fui eu que inventei o negócio.”